quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A despeito da indústria brasileira do couro ser uma das atividades mais antigas do País, cujas origens remontam aos idos do século XVII, foi nas últimas duas décadas que o setor curtidor ganhou a musculatura que lhe assegurou a condição de firmar-se como um dos maiores players na competitiva economiaglobalizada.

Tal posição de destaque é resultado de investimentos realizados pela iniciativa privada da ordem de US$ 300 milhões para expandir e modernizar o parque industrial nacional, em consonância com ações de prospecção de mercados internacionais, reforçados a partir de convênios firmados, desde 2000, com a Agência de Promoção de Exportação e Investimentos.

Unindo três vertentes tecnologia de ponta, marketing agressivo e práticas ambientais adequadas, a indústria brasileira do couro é um dos grandes motores da economia e sua importância pode ser mensurada pela geração de divisas (US$ 2,2 bilhões, no ano passado), de oportunidades de negócios, e de empregos diretos e indiretos.

Em todo o período da parceria com a ApexBrasil, o setor agregou, continua e de forma crescente, valor às exportações. A importância da atividade pode ser avaliada pelo PIB que movimenta, da ordem de US$ 3,5 bilhões, pelo número de empregos que gera ao redor de 50 mil pessoas e pelo volume de exportações: a despeito das dificuldades que o setor vem enfrentando este ano, os embarques somaram US$ 1,53 bilhão até o mês de setembro. As exportações já posicionam o Brasil como o segundo maior produtor internacional de couros (44,4 milhões de peças) e quarto maior exportador.

Demonstrando enorme agilidade, o setor conseguiu identificar, antecipadamente, a queda da demanda de couros pela indústria calçadista que vem focando suas aquisições para produtos sintéticos, mais competitivos para redirecionar suas vendas para outros mercados, de maior valor agregado. Assim, hoje mais de 60% do couro bovino é destinado aos segmentos automotivo e de estofamento, segmentos que priorizam o couro como forma de diferenciar e valorizar seus produtos.

A despeito da agilidade e criatividade do segmento, é preciso atentar para o movimento de inflexão que o setor vive, reflexo da crise americana que provoca uma recessão no mercado mundial e uma desconfiança que imobiliza os negócios em todos os setores. Nos nove meses deste ano, as exportações de couro já registram uma diminuição de 6% em receita e uma queda de 22% em volume.

Em setembro, as exportações brasileiras contabilizaram US$ 150 milhões, diminuição da ordem de 4% no faturamento ante o mesmo mês do ano passado e uma redução de 4% nas peças embarcadas. Assim, a se manter a média mensal até agora registrada, as metas de vendas externas de couros, em 2008, dificilmente serão alcançadas. A apreciação do real nos nove meses do ano vem reduzindo significativamente as margens, inviabilizando negócios e tolhendo a competitividade do setor.

Esse quadro está sendo agravado pelas incertezas econômicas que se abateram sobre as principais economias, reflexo do mercado consumidor americano, já se alastrando para outros mercados internacionais. O segmento do couro, neste caso, não está imune aos impactos negativos de um eventual recrudescimento da crise econômica. Para contrapor-se a tal cenário, o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), entidade federativa que representa, há 51 anos, as 800 empresas de produção, processamento e comercialização de couro, propõe, medidas urgentes para manter a competitividade do setor.

Dentre elas, a imediata agilização no ressarcimento dos créditos retidos nas exportações (especialistas avaliam que em todos os setores do País, devem alcançar cerca de R$ 17 bilhões), a desoneração da produção, a alocação de parte substancial de recursos do Revitaliza (R$ 3 bilhões) para o capital de giro das empresas, e a desburocratização na emissão de certificados sanitários. OCICB entende que somente políticas setoriais efetivas e parcerias entre o setor público e a iniciativa privada podem contribuir para a geração de divisas, riquezas e empregos, principalmente em um ambiente de incertezas econômicas.

Por Luiz Bittencourt, presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), entidade de âmbito nacional, que reúne associados de empresas privadas e sindicatos da indústria do couro, e vice-presidente do International Council of Tanners (ICT, sigla em inglês para Conselho Internacional dos Curtumes), entidade internacional que congrega representações de 25 países

Nenhum comentário:

Postar um comentário